quarta-feira, 16 de julho de 2008
De Volta À Estrada
Com os parcos recursos que possuia, conseguiu comprar um lindo fusquinha branco, o qual batizou de machão, já que alguns adoram mesmo botar nome em carro. Testou a viatura por duas semanas, lavando e guardando todos os dias sob uma capa que havia feito com uns cobertores velhos e do rendimento ele dizia a todos os amigos em conversa de bar: “anda que é um louco”, mas foi que em um determinado dia, ele resolveu fazer seu teste na estrada, já que um amigo apostou com ele que o veículo não andaria a mais de cem quilômetros por hora.
Chegando na faixa o “machão” rendeu muito mais do que o esperado e cada vez mais seu Romeu se empolgava até que, em um determinado momento, a guarda que fiscaliza a faixa lhe abordou. Um enorme de um policial, com óculos escuros, chegou até a porta do veículo e disse ao seu Romeu que deveria baixar o vidro, quando ele perguntou:
- o senhor tem certeza?
O guarda nem titubeou, somente gesticulando com a cabeça, com um gesto afirmativo. Aí começaram os problemas, quando seu Romeu abriu o vidro o cheiro indiscritível de um peido que ele tinha soltado há pouco transformou o aroma do ambiente em um verdadeiro esgoto a céu aberto. O guarda, por sua vez, virou-se com um pulo que mais parecia de academia militar e afastou-se, quando seu Romeu ligou o carro novamente. Neste momento, o guarda agarrou-se na porta do carro e já não sabia se o pior era agüentar o cheiro ou deixar o “elemento” fugir, prendendo a respiração tudo o que podia ele ordenou que seu Romeu desligasse o motor, mas isto não era muito fácil já que uma das mãos estava com os dedos indicador e polegar no nariz e a outra fazia um movimento anti-horário como se segurasse a chave do carro, enquanto seu Romeu já arrancava e ele aconpanhava pulando lateralmente, quando tropeçou e caiu, e aí sim ele ficou com raiva, procurando os óculos, que haviam caído e deu um sôco no capô do veículo o que fez com que o motor fosse definitivamente desligado. Nesta hora seu Romeu percebeu que a coisa estava ficando séria mesmo e desligou o carro, mesmo contra a vontade mas fechando novamente o vidro.
Após se recompor o guarda voltou e mandou novamente que ele abrisse o vidro, quando ele perguntou:
- o senhor tem certeza?
O guarda fez um gesto com o dedo indicador e o polegar bem próximos, que significa só um pouquinho e seu Romeu atendeu prontamente.
- sua carteira de habilitação e os documentos do veículo – ordenou o guarda
- pra quê? – perguntou seu Romeu
- é para fiscalização, o senhor por favor não complique mais do que já complicou.
- Quem? Eu não estou complicando, sai somente para testar meu carro novo e o senhor me proíbe de passar.
- Olha, meu senhor, mostre os documentos que eu lhe deixo ir, está bem?
Foi então que seu Romeu entregou-lhe os documentos, o que fez com que o guarda levasse um verdadeiro susto, quando disse:
- como é que o senhor está transitandocom estes documentos?
- Ué, o senhor não está vendo, com as duas mãos no volante como exige a lei – respondeu ele.
- Será que o senhor não entende, além deste veículo estar com dois anos de atraso no pagamento de impostos, a sua carteira de habilitação ainda é das antigas, faz mais de quinze anos que o senhor não presta exames nem renova.
- E o que é que tem isto? Será que eu me esqueci como é que se dirige por causa disto?
- Bom – diz o guarda – isto eu não posso lhe responder, até por que não estou aqui para discutir as leis e sim para fazer com que os motoristas as cumpram. E , neste caso, o senhor deve encostar seu veículo no pátio do posto de polícia e sem discussão, caso contrário nós mesmo iremos faze-lo.
- Mas e o estatuto do idoso? Será que o idoso não tem direito à nada? Será que sempre vamos ser humilhados e reprimidos?
- O senhor não está sendo humilhado ou sei lá o que, o senhor tem é que cumprir as leis tal qual qualquer condutor de veículo. Pra começar, o senhor deve procurar o Departamento de Trânsito assim que puder para colocar em dia tanto a sua habilitação quanto os documentos do veículo.
- O senhor já está debochando de mim né?
- Claro que não, mas por quê o senhor está dizendo isto?
- Ora, sargento, o senhor não assiste TV? Será que o senhor não está vendo toda a sacanagem que estão fazendo? O senhor acha que dá pra confiar em uma carteira de motorista que esta gente emite? Do jeito que as coisas estão, o senhor confiaria seu carro para eles cuidarem? E, mais, o senhor compraria um carro usado deste pessoal aí?
- O senhor me desculpe, mas eu não estou apto a discutir estes assuntos.
- Mas por quê? O senhor também está metido nisto?
- Olha... o senhor não falte com o respeito que eu não gostaria de ter que prender uma pessoa de idade como o senhor.
- Por quê? Para me multar e tomar meu carro que eu paguei, não pedi nada para o senhor ou quem quer que seja, eu sou igual aos outros, para o xilindró eu sou velho demais? O senhor sabe que isto é preconceito?
- Quem sabe o senhor não faz o que lhe mando quieto e eu não o prendo por desacato e desobediência à autoridade? Escuta bem, meu senhor, eu não tenho preconceito nenhum, só estou com pena de ter que lhe prender, é só isto.
- Pena o senhor vá ter da sua vó, cabo, eu é que tenho pena do senhor que estava aqui neste sol, enquanto eu almoçava tranquilamente tomando meu vinho.
- O quê? O senhor está bêbado?
- Que bêbado, que nada, eu só tomei um litrinho, como todos os dias, mas o senhor é preconceituoso sim e, pra mim, até veado o senhor é.
- A não, desta vez o senhor foi longe demais, eu não vou só lhe prendeu, eu vou é te dar uma surra aqui mesmo, velho arrogante.
- Viu só como o senhor é preconceituoso? Ficou todo brabinho porque eu sugeri que o senhor fosse gay, o que é que o senhor tem contra os gays? Agora o criminoso aqui é o senhor, eu vou processa-lo por preconceito e vou dar entrevista a todos os jornais dizendo que a polícia é preconceituosa e ofende os gays que passam por aqui, o enrustida, sai logo do armário.
- De uma vez por todas, agora o senhor vai ter o que quer, eu vou lá chamar o sargento, vou tirar ele do almoço e o senhor vai ver que a cobra vai fumar.
- Por que? Sua mãe não ta?
O guarda saiu na direção do posto espumando de raiva, quando entrou no posto foi direto a um reservado
onde o sargento almoçava e bateu na porta, quando ouviu lá de dentro em um tom bem forte:
- o que foi? Já não falei pra não me interromper no almoço?
- sargento, sou eu, o Oliveira, estou com um problemão aí fora.
- não vai me dizer que é a filha do deputado denovo?
- não senhor, é pior.
- entra aí e me conta.
- sargento, tem um velho aí fora com carro carteira e tudo que pode atrasado, ainda por cima me chamou de preconceituoso e veado.
- e tu deixaste por isto mesmo? Disse o sargento já se levantando de boca cheia, abotoando as calças, colocando a arma na cintura e pisando no chão como um elefante bravo, mas, ao chegarem na porta, o velho já tinha pego o carro e se mandado há muito tempo.
Jorge Acunha
Queridos Amigos
Gostaríamos que cada pessoa do mundo tivesse maturidade suficiente e sensibilidade permanente para saberem o que as autoridades fazem de nossas vidas, no entanto, isto é quase impossível de se conseguir, o que estamos pensando é que se alguns não têm nenhum estímulo para lutarem pelos seus direitos, pelo menos que saibam como procedem algumas atividades que agem contra estes direitos e que, por qualquer outro motivo ainda estejam dispostos a outro tipo de divertimento, livre de qualquer compromisso com partidos políticos ou atividades anti-políticos, tentaremos fazer algo que justifique o tempo que os leitores dedicam para tal, e que nossa pequena manifestação traga algum regozijo ou simplesmente algum tipo de afago a todos os problemas que nossas vidas nos trazem, para tanto, espero que vocês compreendam que nosso prazer é que haja felicidade em nosso relacionamento.
Obrigado
Jorge Acunha
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